domingo, 27 de dezembro de 2020

Sobre maçãs e bruxas

Conta a bíblia que perdemos o direito ao Paraíso porque Eva comeu o fruto da única árvore proibida, uma macieira, que foi oferecida pela Serpente. É a história oficial registrada no livro.
Acontece que para toda história oficial existe uma história oficiosa. Nem sempre queremos sabe dela, claro. Por isso, talvez, a Serpente não tenha sido ouvida. Até agora!
Foi preciso chegar na era da informática para que os CSI e perfiladores cibernéticos, com base nos testemunhos e vestígios deixados na cena do crime, encontrassem a Serpente e pudessem interroga-la e ouvir a sua versão dos fatos. Tudo está devidamente registrado nas páginas das redes sociais depois que as informações vazaram.
Segundo os que estiveram presentes ao interrogatório, a Serpente foi fria ao narrar os fatos, e disse que até fez umas ofertas bobas, as quais Eva resistiu, mas que ela sempre teve um truque na manga. Nas palavras dela, ao receber as recusas, deu as costas à Eva dando uma rabissaca e disse:
- Beleza! Não quer? Não coma, mas de boas?, eu só achei que você gostaria de ser, para sempre magra. E terminou dando uma sonora gargalhada: A boba não deu só uma mordida, mas comeu todas as frutas maduras que estavam na árvore!
Vamos dar um tempo à esta história, a qual retornaremos mais tarde, mas continuaremos falando sobre maçãs. (O tema não era serpentes e bruxas?)
Outra vítima de maçãs foi uma moça conhecida apenas como Branca de Neve.
Neste crime, também amplamente divulgado, as testemunhas ouvidas, embora haja algumas divergências entre elas, acusam a madrasta invejosa da garota de tê-la envenenado.
Mas vamos combinar, embora não se deva culpabilizar uma vítima, Branca de Neve era muito ingênua, para não chamar de burra mesmo.
Se alguém tenta mata-la por três vezes, criatura!, fica atenta e desconfia da tua própria sombra! Foi avisada que a madrasta era ótima roteirista, criava histórias como ninguém, fera na alta costura, pois era elegantérrima, mas dominava como ninguém trapos e retalhos e só não ganhou o Oscar de melhor maquiagem porque o prêmio ainda não existia e caia em tudo que ela aprontava? Dá licença!
Porém, vamos dar crédito a Branca de Neve e admitir que qualquer um cairia na lábia da bruxa que chegou com aquela maçã belíssima, cheirosa, vermelhinha e nunca, nunquinha na vida, ela iria imaginar que aquela velhinha bondosa, encarquilhada, com cara de pé na cova teria coragem e força para fazer alguma coisa contra ela. Além disso, ela ia comer da mesma maçã! Ninguém é doido de comer veneno para matar os desafetos! Correr o risco de morrer também?
Mas a bruxa de doida não tinha nada. Era muito de fato esperta e dissimulada.
Segundo as investigações e as análises do DNA encontrado nas mordidas da maçã, apenas no lado que Branca de Neve mordeu havia veneno.
Na história da Serpente, Eva engordou, teve celulite, arriou peito e bunda e ainda ganhou, de brinde, umas cólicas menstruais.
Branca de Neve foi salva aos quarenta e cinco do segundo tempo, mas quase passa desta para uma, dizem, melhor.
Diante de fatos históricos inegáveis, humanidade, vamos à moral da história:
- Nem sempre você reconhece a Serpente, então, cuidado com as maçãs que te oferecem.


Foto autoral - Elaine Oliveira

https://www.youtube.com/watch?v=D00Sx5MaIM0



- Nem toda bruxa te envenena, mas as maçãs oferecidas pelas bruxas estão sempre envenenadas.

'Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima'

Quarta-feira, 22 de dezembro.
Quase não levanto porque uma rinite, sinusite, gripe ou afins me atacou e não dormi direito tossindo, como diria minha mão, feito cachorro.
Tento atender ao telefone e descubro que a voz ficou em algum lugar entre o ontem e o hoje.
Tenho vontade de dizer que não vou trabalhar, mas não posso. Estamos sem chefia imediata e cabe a mim, neste momento, assumir este papel e é dia de festa. Para a felicidade de nossos juízos, não que não amemos as crianças, é o último dia de aula de 2017.
Decidi não usar um sapato de salto baixo porque já havia usado na véspera e o triste faz um calo em cada dedão. O de salto alto também não era opção porque depois que quebrei o dedo do pé e passei dois meses sem poder andar, saí com ele nas ruas de areia fofa onde moro é pedir para quebrar de novo. Dane-se! Vou de rasteira mesmo!
Saio apressada pelo caminho levando na mão um certificado em papel cartão, para presentear a empresa que vai doar presentes aos nossos alunos, para que não amasse. (Tá! Sou professora, tenho milhões de pastas, mas neste dia não achei uma disponível)
Como as calçadas ou não existem, ou são irregulares, prefiro andar pela areia mesmo para não ficar no sobe e desce miserável.
No meio do caminho cumprimento um rapaz que vigia a esquina de uma das ruas. Ele me pergunta pela minha voz e eu digo que fugiu. Ao mesmo tempo, não sei explicar o motivo, subo na calçada.
Pense em uma ideia infeliz! A rasteirinha, usada para evitar acidentes, enganchou na beirada da calçada e lá fui eu com os dois joelhos e as duas mãos no chão e a cabeça, por pouco, não batia no muro.
Chamei um belíssimo palavrão! Claro!
Em coisa de segundo o rapaz estava me ajudando a sentar e fazendo massagem nos joelhos enquanto uma senhora que passava pela rua se aproximava para perguntar se eu estava bem e argumentava que, se eu era jovem tinha caído, imagina se fosse uma pessoa idosa como ela.
Olhei para a criatura e ela devia ter a minha idade! Mas eu sou velha! Ou quase velha, respondi, mas aceitei o elogio.
Mas o que a de tão interessante em uma queda? Nada! Talvez o fato de que, enquanto eles se preocupavam com meus joelhos e mãos eu só pensava: '*&%$#%$#@*&%$#@!!!', minha calça nova!!

(A queda foi há 4 anos atrás, mas fui corrigir um erro na postagem e, como boa limitada tecnológica que sou, acabei postando como se fosse nova. Portanto, não se preocupem! Sobrevivemos eu e a calça nova.)

O espírito do Natal passado!

 

Os natais passados nem sempre foram memoráveis. Morávamos longe da maior parte do resto das famílias, mamãe tinha um parentesco bem próximo com o Grinch e este lado aflorava forte quando papai trabalhava, e ele sempre fazia isto, até tarde na véspera de Natal.

Não tínhamos tradição de confraternizar com vizinhos porque geralmente eles estavam viajando para passar as festas com as famílias, então acabava sendo apenas a gente e se dependesse da minha mãe a ceia seria às 18h e às 20h, no mais tardar, todo mundo já estaria no terceiro sono.

Mas um Natal ficou marcado. Acho que o ano era 1980.

Diferente dos outros anos quando viajávamos em janeiro, neste ano passamos o Natal em Recife. Especificamente na casa de Dona Valdertrudes também conhecida como tia Tutu.

Dona Val morava na Vila da Sudene. A casa não era grande e no meio da sala tinha uma árvore que, na minha lembrança, parecia tomar um quarto dela, mas o que tinha embaixo dela, os presentes ou as lembrancinhas, como dizia dona Ildete, minha mãe, ‘só para não passar em branco’, tomava quase que todo o resto dela.

Eram presentes e lembranças de todos, para todos: de parentes para parentes, de parentes para amigos conhecidos e para as crianças, o presente do Papai Noel. E a cada momento chegava alguém para deixar os presentes que iriam para debaixo da árvore.

Se fosse hoje, diríamos que cada um que lutasse para circular pela casa.

De noite, tinha gente no terraço, no jardim, na rua, do outro lado da rua, parentes conhecidos, parentes que a gente nem conhecia direito, amigos dos parentes que já eram nossos amigos, amigos que a gente nunca tinha visto.

Não lembro todos que estavam lá, mas a cada momento chegava mais e mais pessoas. Minha lembrança, talvez supervalorizando o momento, registra que não cabia mais ninguém, mas o povo continuava chegando.

Em alguns pontos a minha memória falha: Papai Noel chegou antes do jantar? As crianças jantaram antes dos adultos? Que horas distribuíram os presentes?

Lembro que Papai Noel chegou e foi uma confusão fazê-lo chegar até a sala passando pelo mar de presentes ao pé da árvore e chamar cada criança presente. Fiquei de fora deste momento porque já tinha 15 anos e era velha demais para acreditar em Papai Noel. Achei injusto? Sim, claro e com certeza!

Mas daí veio a entrega dos presentes de todos, incluindo as crianças que já haviam recebido o presente do Papai Noel. E aí era um tal de “De Fulano para Sicrano” que para o Sicrano chegar na árvore e receber, sair para dar lugar ao próximo e Fulano poder ir buscar o presente que Sicrano lhe deu era uma saga e uma felicidade só, além do uso de um sistema de comunicação maravilhoso: quem estava com o presente lia de quem para quem, os convidados espalhados pela casa chamavam o nome do destinatário até que a gente ouvisse e conseguisse ir até a árvore. E quando se conseguia sair da casa carregando um presente, depois de muita luta para vencer o mar de gente e era chamado de volta para buscar outro?

Depois dos presentes distribuídos, ou antes, porque como eu já disse, alguns detalhes ficaram misturados na lembrança, Dona Val, a tia Tutu, reuniu todo mundo, de mãos dadas, acho que em vários círculos porque não dava para ser um só, e fez a oração de agradecimento antes da ceia.

Quando voltamos a morar em Recife, achei que haveria outros natais como aquele. Não houve!

Aquele Natal será sempre uma doce lembrança de uma grande, barulhenta, confusa e animada reunião de família!

Foto autoral - Elaine Oliveira

https://www.youtube.com/watch?v=WgxZryQx4NI

Há algum tempo eu venho planejando escrever uma série chamada " #Antesqueamemóriaesqueça ” lembrando de algumas velhas conversas familiares, repetidas a exaustão, todas as vezes que duas ou três pessoas se reuniam.
A dinâmica do dia a dia, nem sempre permite que a gente, família ou amigos, se reúna para reviver os momentos, contar para filhos, sobrinhos e amigos, de maneira que eles possam recontar quando não estivermos mais aqui.
Não pretendo que seja uma biografia porque estas histórias contadas, exceção à regra, eram aventuras e desventuradas que acabavam em boas gargalhadas. E pode ter certeza que tenho uma coleção que poderia me transformar em uma comediante de stand up.
Mas hoje, depois de vivenciar o natal, resolvi começar pelo espírito do natal passado. Claro que trarei o espírito do natal presente que não é tão bucólico!
Aguardem!

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Entre serpentes e bruxas

- Nem toda bruxa te envenena, mas as maçãs oferecidas pelas bruxas estão sempre envenenadas.




(Quantas vezes somos Eva ou Branca de Neve engolindo, sem pestanejar, todas as maçãs que a vida nos oferece e depois nos arrependemos dos resultados, juramos não mais comê-la e as comemos de novo? Mas nunca deixaremos de ser bruxas ou serpentes, com certeza! A diferença é que nem sempre te envenenaremos.)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

2016, apesar de tudo, obrigada!

Ontem já é ano passado, né? Ficou em 2016. Depois de sentar e refletir ‘pessoas, o que foi este ano?!’ e de pensar ‘já vai tarde’ vi que 2016 me observava de longe e com uma cara triste e pude perceber o que ele estava pensando.
Ele pensava que boa parte dos seus 366 dias foi composto, basicamente, de ‘eita!’, ‘oxi!’, ‘vige!’, ‘tacaporra!’, ‘lascou!’, ‘fudeu!’ e outras tantas expressões se surpresa, mas sempre ligadas a uma surpresa ruim. Mas pensava também que, em grande parte, ou na parte toda, ele não teve culpa, que não adiantava todos estarem mandando ele vazar; dizerem que já ia tarde; que ele teve, ao todo 732 dias; que é um ano a ser esquecido...
E no seu olhar me perguntou o que tinha feito de mal para mim.
Confesso que a pergunta me incomodou! Claro! Xinguei, reclamei, mandei vazar, perguntei o que diabos ele, 2016, estava fazendo com as nossas vidas... Mas o olhar dele para mim, na hora de ir embora, me incomodou... O que eu te fiz?
Parei para refletir. De fato, 2016 foi complicado. Só ele?
O povo que habitou 2016 não facilitou a vida dele em nada! E estes não foram embora. Talvez, diante dos contextos acusatórios tão populares nas mídias, tanto sociais quanto jornalísticas, eu pudesse dizer que demos um golpe em 2016. Conseguimos, pelo andar natural da carruagem, claro, manda-lo bastar, mas não demos a ele o direito de defesa.
Para mim, particularmente, 2016 não foi de todo mal. Poderia até dizer que ele foi simpático.
- Menina, você quebrou o pé e passou dois meses sem poder andar!
Verdade! Mas não foi 2016 que provocou o desnível na calçada que me fez quebrar o pé. Foi bom? Claro que não! Não andar e não poder fazer nada foi um saco, mas me ensinou, ainda que mal e porcamente, a ter um pouco de paciência, a entender que o mundo continua quando eu estou, temporariamente fora dele; que as pessoas, em sua minoria, oferecem ajuda (que eu deselegantemente em meu aprendizado, dispensei!), que outros te atropelam pela sua impossibilidade, o que me fez ver como é a vida daquelas cuja impossibilidade de movimento não é passageira...
- Mulher, teu salário quase não aumenta e hoje ele está sofrendo sem poder comprar o que tu compravas em 2015!
Outra verdade! Mas não foi 2016 que não deu o aumento ou que, ao contrário, remarcou os preços em tudo que preciso para sobreviver. Foram as pessoas que ele herdou de 2015, que herdou de 2014, que herdou de 2013, que herdou de 2012, que herdou...
- Criatura, e o mês que tu trabalhaste sozinha porque a chefa estava com problemas de saúde na família?
Claro que eu não queria que ninguém adoecesse, mas não para não trabalhar sozinha, apenas para que alguém não estivesse atravessando por momentos difíceis. Mas são momentos como estes, de dificuldades que não são nossas, que a gente pode se sentir útil, aprende o valor do trabalho em equipe, assume responsabilidades que nem sabia que podia dar conta... Enfim, foi sério, mas não foi comigo e não me cabe reclamar disto, além do fato de ficar feliz porque o problema caminha para uma solução positiva.
- E a polític...
Pode parar! Você vai fazer uma lista imensa de culpas de 2016 e eu, depois da fria análise da coisa, vou achar um álibi para inocentá-lo.
No que diz respeito a mim, 2016 me deu a oportunidade de continuar trabalhando, mesmo que algumas vezes tenha reclamado da falta de estrutura, de acordar cedo, do trânsito, do salário, de chegar tarde... Problemas no trabalho? Muitos!, mas muitos não tiveram nem emprego.
2016, mesmo com todo o medo que me acompanha, foi um ano onde nem eu, nem meus filhos fomos assaltados ou sentimos na pele a violência cotidiana. Alguns perderam bens materiais ou nem voltaram para casa porque perderam a vida.
Quanto ao quesito perder a vida, 2016 foi um ano no qual a Dama da Foice trabalhou incansavelmente e eu não perdi ninguém muito próximo, mesmo me solidarizando com a dor da perda dos outros.
2016 foi um ano de harmonia entre meus filhos, mesmo quando precisei apagar o incêndio de um retrocesso em decorrência de um quebra pau.
Em 2016 não adoecemos! Tivemos doencinhas bobas, claro: alergias, resfriados, sinusites, dores no corpo, estafa, estresse, queda ou alta de pressão.... Nenhuma causada por grandes males e que colocassem em risco nossas vidas. Todas contornáveis com os devidos cuidados.
Mas foi em 2016 que formei meu primeiro filho. Meu caçula. Professor como eu.
Em 2016, depois de adquirir os requisitos necessários para minha aposentadoria, dei entrada nela. Cinquenta e um anos de idade e 29 anos de serviço. Todos estes anos, graças a minha falta de juízo, sem precisar usar Rivotril e companhia quando muitos, com um ano de profissão, já precisam dele.
E 2016 me trouxe a notícia da chegada de Everton. Meninho sapeca, que não estava planejado para chegar porque a gente queria melhorar o mundo antes de sua vinda. Ele se antecipou, já é muito amado e fará, ele mesmo, parte da melhoria deste lugarzinho chamado mundo onde habitamos.
Então, o que tenho mesmo para reclamar de 2016?
Relembrei do seu olhar ao se despedir, em meio aos nossos festejos e comemorações, sem direito a um brinde de despedida...
2016, eu te devo desculpas. Sinto muito pela minha ingratidão. Se você não foi o ano que sonhei, foi o meu ano possível. Então, obrigada por tudo!
Obrigada, inclusive, por me mostrar que não adianta ganharmos um novo ano se não nos renovarmos, se não aprendermos a ser tolerantes, respeitosos, honestos, amáveis, educados, caridosos.... Sem isto vamos continuar jogando a culpa em todo velho ano e acreditando que, na conclusão de um movimento de translação, por um passe de mágica, tudo se resolve.
De antemão peço desculpas a 2017 pelas pessoas que ele herdou de você, inclusive eu, porque, sem atingir a perfeição, posso, com toda certeza, fazer alguma coisa da qual ele possa ser acusado, mas prometo me redimir e dizer que a culpa realmente foi minha, e não dele, caso isto aconteça.
Vá em paz, amigo 2016. Daqui eu vejo o que posso fazer para reabilitar seu nome.
Grata por tudo, sua amiga:

Elaine Oliveira

(Chega um tempo em que você cansa de ouvir 'feliz ano novo' e de acreditar que tudo muda com o encerrar de um ciclo de translação. Eu cansei de 'feliz ano novo!'. Então, que venha um 'feliz novo eu!', 'feliz você novo!'. Isto sim, construirá um novo tempo. Transforme-se!)
Transforme-se (Imagem da internet sem identificação do autor)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

#JeNeSuisPasNada!!

Já faz algum tempo que assisti um filme chamado “Uma escola muito louca” onde um rapaz rico e branco (C. Thomas Howell) após perder o apoio da família para estudar direito em Havard, utiliza-se de artifícios para ficar negro e poder cursar a universidade, sem pagar, usando o sistema de cotas acreditando que assim não teria problemas por acreditar na ‘facilidade’ que é a vida dos negros na sociedade americana.
Neste percurso ele conhece a garota negra (Rae Dawn Chong), de origem pobre, com um filho para criar, de quem ele roubou a vaga e que, por causa disto tem que trabalhar como garçonete para manter-se e pagar a universidade. Previsivelmente ele se apaixona por ela, conhece sua família e amigos e passa a conviver com o preconceito, o desrespeito, as piadas de mau gosto contra os negros, os mesmos preconceitos, desrespeito e piadas das quais fazia uso.
O filme é comercial, tipo sessão da tarde, risível e, como já disse, previsível se você não prestar atenção a alguns detalhes como o discurso do amigo (Arye Groos) faz para defende-lo no julgamento por fraude na universidade onde acusa a sociedade, corrompida moral e intelectualmente, de criar pessoas como seu cliente, mas que, apesar da raça e da criação, resta a esperança de que possa vir a ser útil à sociedade.
Detalhe maior, diante de tantas situações atrapalhadas e engraçadas, perderá quem não prestar atenção a conversa final entre Mark, o enganador, e seu professor, vivido pelo espetacular James Earl Jones.
Nela depois de perguntar várias vezes o que Mark pretende fazer dali para frente várias vezes e de ouvi-lo dizer que quer se formar em direito e ser útil à sociedade, o professor passa a enumerar as incontáveis vantagens de ser um advogado formado em Harvard, mas que acredita que ele tenha aprendido mais com a experiência do que a universidade poderia ensinar e acaba dizendo que ele, Mark, aprendeu a ser negro!
Para sua surpresa, o rapaz responde que não aprendeu a ser negro porque durante toda a experiência, poderia desistir a qualquer momento caso não gostasse. E isto não era a mesma coisa de ser negro.
Nós somos Mark! Todos nós!
Mudamos nossas fotos de perfil para bandeiras em favor do LGBTs; em solidariedade aos que sofreram atentados na França; usamos #algumacoisa para apoiarmos as diferenças religiosas, direito de todos; apoiando o movimento negro e o reconhecimento das inclusões; as vítimas de grandes tragédias da natureza ou causada por grandes acidentes...
Reclamamos dos que lembram dos estrangeiros, mas esquecem os que estão ao seu lado e reclamamos de outras tragédias que acontecem todos os dias com outros povos, outras raças, outros países, outros que não somos nós!
Disputamos para ver qual é a tragédia maior e que é justa ou não e por isto os inocentes são mais inocentes e por isto merecem nossas orações mais puras.
Dizemos que ninguém lá fora lamenta uma tragédia brasileira...
Mas vamos ter uma conversa de pé de orelha: todo mundo lembra, trocando ou não a foto de perfil de fazer alguma coisa, de fato, pelas causas que pauta?
Já levantou a bunda da cadeira e foi a uma passeata em favor da educação porque #jesuiprofessor? Ou você só é a favor se não atingir a escola particular onde seu filho estuda?
Já defendeu um protesto por redução de passagem, mesmo sem ter engrossado as fileiras ou #acidadevaipararseapassagemnãobaixar desde que estes baderneiros não me impeçam de passar no meu carro com ar condicionado?
Já foi a favor de uma tragédia brasileira e reclamou de quem se solidarizou com uma estrangeira, porque brasileiro só dá valor ao que vem de fora, mesmo quando é uma tragédia, mas não doou um centavo, uma roupa velha, um litro de água para os flagelados?
Tem certeza que você conhece tão bem os estrangeiros para saber que nenhum apoiou os brasileiros? Você consegue circular pela oração de cada um, para qualquer que seja sua Ser superior, mesmo sem elevar um pensamento a Deus, Budá, Maomé, Geova, Shiva, Oxalá ou seja quem for para pedir comiseração aos que padecem nas tragédias?
Somos todos Mark!!
Na hora que a brincadeira cansa, podemos trocar a foto de perfil por qualquer outra, mais alegre, mais colorida, mais festivas, sem o peso das lutas ambientais, sociais, étnicas, religiosas que possa estar afligindo a quem quer que seja.
Não disputemos que tragédia entrará para o Guiness! Não coloquemos no mesmo saco todos os de uma nacionalidade como se fossem terroristas, ladrões, assassinos, subversivos, mau caráter, corruptos...
Mude a foto por bandeira, lama, laço preto, laço colorido...
Mude se sobrenome...
Mude-se!! Mude seu modo de pensar e agir!
Doe dinheiro, roupa, comida, tempo, atenção.... Abra sua cabeça e entenda que somos inteligentes o suficiente para expandirmos nossas mentes e emanar energias positivas, força vital, axé, orações, a isto também podemos chamar de solidariedade, para várias causas, mesmo que nos perfis as pessoas optem por dar visibilidade a uma ou outra por simpatia ou empatia.
#Jesuishumana com todas as contradições desta condição. E desta condição não dá para desistir.
Mais humanidade, por favor, ou continuaremos #JeNeSuisPasNada!

Guerra e Paz - Cândido Portinari

(Entre a França, Mariana, a Síria, a Chapada Diamantina, o sertão nordestino. Gaza, Governador Valadares, Nigéria, Moçambique, Recife, Coque prefiro a humanidade inocente que existe em todos estes lugares!)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

É Natal! E daí?!

É Natal! E daí?!
É só mais um dia, ou você entendeu o que significa o Natal?
Não estou falando do Natal das religiões ou da sociedade do espetáculo, cheio de consumismo e imediatismo, mas do Natal do cara que disse para amarmos uns aos outros, para sermoas caridosos, para fazermos o bem, para não julgarmos os outros, para nos perdoamos mutuamente...
Foram coisas tão difíceis de se fazer que preferimos acender as luzes, colocar a música nas alturas, trocar presentes e beijos com quem nem mesmo estamos afim de verdade.
Hora de repensar o Natal!
Hora de ser manjedoura e deixar o Cristo nascer!
Hora de ser o Cristo, que eu acredito piamente, nunca pensou em religiões para exaltá-lo, mas que acreditou que cada um de nós poderia sê-Lo, desde que aprendêssemos a ser.
Que os princípios universais de paz, amor, caridade, harmonia, perdão se façam presentes em todos os 365 do novo ano!
Feliz nosso dia!



Foto - Elaine Oliveira


(Publicado originalmente na minha página do Facebook.)